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"Amo porque amo"

Posted by Luiz Fernando Vieira

   A vida do ser humano sempre foi formada de princípios, valores e principalmente de escolhas, opções e essencialidades. Valorizando toda e cada experiência vivida, pode-se dizer que, na busca pelo melhor, o homem escolheu-o desde sempre, seja individual ou coletivamente.
   Poetas, escritores, letrados e doutos compuseram textos magníficos, poesias emocionantes e músicas harmoniosas sobre suas práxis. Houve, em toda a história, uma necessidade vital de expressar conforme suas emoções, realidades, fantasias e ímpetos.
   Evidentemente, o homem viveu a consequência dessa busca constante e incessante. Mas o que realmente procurava? Com certeza, muitos responderiam que o homem, antes de tudo, se fez um caçador de sua própria felicidade e de sua autorrealização.
 Numa análise óbvia das escolhas subjetivas feitas pelo ser humano, pergunta-se: houve escolha em que não houve renúncia? Com cada escolha, o que se perde ou o que se ganha? Até que ponto, essa dinâmica de optar e renunciar nos coloca numa dimensão autêntica de procura pela felicidade? Como pode-se ganhar, se ao escolher também se perde?
Transcendendo as perguntas, ignoramos ou desconhecemos suas respostas. Não é necessário discursos filosóficos, textos exuberantes, poesias desconcertantes ou músicas descritivas, não se faz necessário um estudo psicológico ou um aprofundado estudo logosófico, ou qualquer outra faceta. Para definir escolhas e definir buscas é definir-se a si mesmo. O caminho mais longo que um homem deve percorrer é a da razão ao seu coração e do seu coração a razão, numa consulta clara e convicta de que o certo de fato é o correto e o errado foi-se apartado.
   Nos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo de Claraval, insigne abade e doutor da Igreja, encontramos uma riqueza oculta aos olhos do mundo e muito significativa para almas que conhecem a Deus e Nele encontram respostas:

" O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte á sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar"
Sermo 83,4.

   O amor é a única escolha feita pelo homem, que ele não perde nada, ao contrário, ganha e se enriquece de forma extraordinária. O ato de amar é um ato de consciência, uma doação que não permite fazer reservas; ou se ama inteiro ou simplesmente não se ama.

"É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, único e totalmente se entregue ao amor, pagando amor com amor."
Sermo 83,5.

   O amor é o sentimento que nos desperta para o infinito e nos abre a realidade, é um constante anular-se, é fundamentar desde o despertar ao eternizar do sentir, um constante ato a ato, amando.
   Enfim, considerando as máximas de São Bernardo e a humildade da reflexão, a mística cristã adquire uma forte tonalidade afetiva, ou seja, surge uma aliança mística, centrada de antemão, no amor a Cristo para um autêntico amor aos irmãos. A essa tonalidade afetiva, enfocada nos Mistérios de Cristo se centraliza na chamada mística esponsal em que a linguagem do amor transforma e diviniza as realidades subjetivas.
   E o amor de Deus e para com Deus, se torna uma fonte de ganhos, pois no amor, nunca existe um perdedor.
   


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