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Uma monja desconhecida

Posted by Luiz Fernando Vieira

“Crer que um ser que se chama Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite, e nos pede que vivamos em sociedade com Ele, eis aquí, garanto-vos, o que tem feito de minha vida um céu antecipado”.

     A beleza da Igreja passa pela vontade do Pai, que por amor de seu Filho, O torna adorado, glorificado e amado na Igreja, sob o impulso do Espírito Santo.
     Compreendendo as necessidades da Igreja, os homens se tornam vocacionados da fidelidade, para que, seja em regresso ou progresso, a Igreja seja fiel à Deus.
     Deus envia almas capazes de dar resposatas que satisfazem e alcançam eficácia inagualável. Ao contrário do mundo, as respostas de Deus ao nosso tempo são admiravelmente contraditórias do que se espera e ao mesmo tempo corresponde de forma completa suas necessidades.
     Homens esperam milagres. Multidões aguardam santos e profetas. O mundo deseja renovaçãoe avanço. Enquanto Deus é simplicidade e objetivo.
     Nosso palco para reflexão será a França no século XVI, fortemente marcada pela ascenção da Revolução Francesa e o Iluminismo. Poderíamos citar insignes mártires como a Beata Teresa de Santo Agostinho e suas 16 companheiras mártires na perseguição francesa. Poderíamos citar a gloriosa doutora Santa Teresinha, com sua singular doutrina da via excelente, até mesmo citar suas máximas sobre a divina ciência do amor.
    Porém, na dinâmica histórica de que tudo passa, cabe-nos a certeza de que a verdade sempre permanece!
    Cristo pregou o evangelho, mas Ele mesmo foi antes de tudo e de todos, um praticante da própria palavra que pregava.
     Elizabeth nasceu na França em 1880, filha e neta de militares, seu nascimento aconteceu justamente em um acampamento militar. Desde menina distinguiu-se por seu temperamento agressivo e ao mesmo tempo apaixonante e inclinado à uma alta sensibilidade. Assim nos conta sua mãe:
 “Quando tinha um ano, já se manifestava a sua natureza ardente e colérica... Foi pregada uma missão durante a nossa estadia devendo terminar com a bênção das crianças. Uma religiosa veio-me pedir uma boneca para representar o Menino Jesus, no presépio, devendo vestir-se com um traje cheio de estrelas douradas e irreconhecível aos olhos da menina. Levei-a à cerimônia. A criança esteve distraída com as pessoas que chegavam, mas quando o prior do alto do púlpito anunciou a Bênção, Elisabeth deitou um olhar sobre o presépio e reconheceu a boneca e, num ímpeto de cólera, com o olhar furioso, exclamou: ‘Jeanette! Dêem-me a minha boneca!” A criada teve de a levar no meio duma risada geral. Esta natureza ardente e colérica cada vez mais se acentuou...” (RB 1,2-3).
     Seu pai faleceu no dia 2 de outubro de 1887, de repente, vítima de uma crise cardíaca. Elisabeth, que tinha então sete anos e dois meses relembrará dez anos mais tarde essa hora trágica. A morte do pai causará a “conversão” e mudança de caráter de Elisabeth. como fruto de sua vida de ascese e oração.
     Faz sua primeira comunhão no dia 19 de abril de 1891, em Dijon. Indo com outras companheiras visitar o Carmelo recebe um “santinho” da Priora, Madre Maria de Jesus, que na dedicatória traduz o nome Elisabeth por “Casa de Deus”. Sete anos depois da sua primeira comunhão, Elisabeth escreverá:
" Nesse dia...

Em que Deus fez de mim sua morada,
Em que Deus se apoderou de meu coração,
E de tal modo o fez que, desde então,
Desde esse misterioso colóquio,
Essa conversa divina, deliciosa,
Só aspirava a dar a minha vida,
a retribuir um pouco o Seu grande amor
ao Bem-Amado da Eucaristia
Que residia no meu pobre coração
Inundando-o de favores."
     Desde os oito anos estudou música no Conservatório de Dijon. Todos os dias passava horas ao piano. Muitas vezes participou em concertos organizados na cidade. Seu talento precoce merece elogios nos jornais locais. No dia 24 de julho de 1893, apesar da sua pouca idade, obteve o primeiro prêmio de piano do Conservatório.
     A jovem Elisabeth freqüentará a sociedade local. Conta-se que antes de sair para as festas, ela entrava em seu quarto e rezava a Nossa Senhora, que nenhum rapaz da festa se apaixonasse por ela, visto ser apaixonada por Cristo. No decorrer de uma festa, enquanto dançava e se divertia, a Sra. Avout, surpreendeu o seu olhar e lhe segredou: Elisabeth, não estás aqui, estás vendo Deus...” Havia nos seus olhos “um não sei quê de luminoso que irradiava”.
     Sem a permissão da mãe, Elizabeth só consegue ingressar no Carmelo de Dijon quando completa 21 anos. Na vida monástica encontrou todos os desejos de sua alma, fez de sua vida, uma doutrina sólida, apesar de uma vida curta, visto que Irmã Elizabeth falece aos 26 anos em 1906.
      Em sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas.
      Foi beatificada pelo papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984, festa de Cristo Rei. Hoje, dia 08 de Novembro é sua festa.
      Dentre os beatos e beatas da Igreja, A Irmã Elizabeth da Trindade possui uma centralidade muito singular, ela numa atitude ousada e fiel, descreve uma doutrina extremamente profunda sobre a Santíssima Trindade em uma única oração, sendo inclusive citada no Catecismo da Igreja Católica (CIC 260): 

Elevação à Santíssima Trindade

Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para me fixar em Vós, imóvel a pacifica como se a minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundidade do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei nela o vosso céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que aí permaneça com todo o meu ser, bem desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa Ação criadora.
Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-Vos de glória, quereria amar-Vos... até morrer de amor ! Mas sinto a minha impotência a peço-Vos para me "revestir de Vós mesmos", para identificar a minha alma com todos os movimentos da Vossa alma, para me submergir, invadindo-me, a substituindo-Vos a mim, para que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, a como Salvador. 
Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos, quero tornar-me inteiramente dócil, para tudo aprender de Vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero fixar-Vos sempre a permanecer sob a vossa grande luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que eu não possa jamais sair da vossa irradiação.  
Ó Fogo consumador, Espírito de amor, "descei sobre mim", para que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, debruçai-vos sobre a vossa pequena criatura, "cobri-a com a vossa sombra", não vendo nela senão o "Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências".
Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-Vos em mim para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas".
     Sua mensagem central é que corramos no caminho da santidade, pois o Espírito Santo eleva o nosso espírito, para que sejamos de forma autentica um louvor de glória à Santíssima Trindade e acima de tudo, sejamos sempre dóceis às moções do Espírito Santo.

Oração
Deus, rico em misericórdia, que revelastes à beata Elisabeth da Trindade o mistério de vossa presença escondida na alma do justo, e dela fizestes uma adoradora em espírito e verdade, concedei-nos, por sua intercessão, que também nós, perseverando no amor de Cristo, mereçamos ser transformados em templos do Espírito de Amor, para louvor de vossa glória. Amém.
Beata Elisabeth da Trindade, rogai por nós!

“A Trindade: aquí está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair... Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma.
No dia em que compreendi isto, tudo se iluminou para mim".
 

A bela homilia de um exorcista do Vaticano I

Posted by Luiz Fernando Vieira


      Hoje a Igreja faz memória deste insigne pastor, o Beato Francisco Palau (1881 - 1872). Frade Carmelita Descalço e eremita que amou a Igreja e por ela gastou sua vida. Exerceu o ministério de Exorcista, foi padre conciliar do Vaticano I, segue uma de suas mais belas homilias:

      "Deus em sua providência, dispôs não remediar nossos males, nem nos conceder suas graças, senão mediante a oração, e que pela oração de uns sejam salvos outros. (cf. Tg 5,16ss). Se os céus enviaram seu orvalho e as nuvens choveram o Justo, se abriu-se a terra e brotou o Salvador (cf. Is 45, 8), quis Deus que, à sua vinda, precedessem os clamores e súplicas dos santos profetas, particularmente as súplicas daquela Virgem singular que conquistou os céus com a fragância de suas virtudes e atraiu a seu seio o Verbo incriado. O Redentor veio e por meio de uma oração contínua reconciliou o mundo com seu Pai. Para que a oração de Jesus Cristo e os frutos da sua redenção se apliquem a alguma nação ou povo, para que haja quem o ilumine com a pregação do Evangelho e lhe administre os sacramentos, é indispensável que haja alguém ou muitos, que, com gemidos e súplicas, com orações e sacrifícios, tenha antes conquistado aquele povo e o tenha reconciliado com Deus.
     A isto, entre outros fins, se dirigem os sacrifícios que oferecemos em nossos altares. A Hóstia Santa que apresentamos neles todos os dias ao Pai, acompanhada de nossas súplicas, não é só para renovar a memória da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, mas também, para obrigar com ela o Deus de bondade a que se digne aplicar a redenção de seu Filho à nação, província, cidade, aldeia, àquela ou àquelas pessoas por quem se celebra a santa missa. Nela é onde propriamente se negocia a redenção com o Pai, ou seja, a conversão das nações. Antes que a redenção se aplicasse ao mundo, ou, o que é o mesmo, antes que o estandarte da cruz fosse hasteado nas nações, o Pai dispôs que seu Unigênito, feito carne, o negociasse com "súplicas contínuas, com veemente clamor e lágrimas" (Hb 5,7), com angústia de morte e com derramamento de todo o seu sangue, especialmente no altar da cruz, que levantou sobre o Calvário.
     Deus, para conceder suagaça ainda àqueles que não a pedem nem podem ou não querem pedí-la, dispôs e ordenou: "Orai uns pelos outros par que sejam salvos" (Tg 5, 16ss). Se Deus deu a graça da conversão à Santo Agostinho, foi devido às lágrimas de Santa Mônica, e a Igreja não teria São Paulo, diz um santo Padre, se não fosse a oração de Santo Estevão. E é digno de notar-se aqui que os aoóstolos, enviados a pregar e ensinar a todas as nações, reconhecem que o fruto de sua pregação era efeito mais de sua oração que de sua palavra quando, na escolha dos sete diáconos para que se encarregassem das obras externas de caridade, dizem: "Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da palavra" (At 6,4). Reparem bem, dizem que se aplicarão primeiro à oração e só depois desta ao ministério da palavra, porque sem dúvida, nunca foram converter um povo sem antes que na oração tivessem conseguido que se convertessem.
     Jesus Cristo empregou toda a sua vida em orar e só três anos para pregar!
     Assim como Deus não concede suas graças aos homens senão mediante a oração, porque deseja que o reconheceçamos como a fonte de onde dimana todo bem, assim também mão nos quer salvar dos perigos, nem curar-nos as chagas, nem consolar-nos nas aflições senão mediante a mesma oração"
 
Escritos Espirituais do Beato Francisco Palau, presbítero:
Luta da alma com Deus, Roma 1981, pp. 42-44; 135-136.