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O aniversário da Virgem Maria

Posted by Luiz Fernando Vieira

     "O fim da lei é Cristo (Rm 10,4), que ao mesmo tempo separa da lei e eleva para o espírito. Nele está a consumação, pois o próprio legislador – tendo cumprido e terminado tudo – transfere a letra para o espírito. Assim tudo recapitula em si mesmo, vivendo a graça depois da lei. A lei, porém, submetida; a graça, harmoniosamente adaptada e unida. Não misturadas e confundidas as características de uma com as da outra, mas mudado de modo divino o que era pesado, servil e escravo, em leve e liberto, para que não mais estejamos reduzidos à servidão dos elementos do mundo (Gl 4,3), como diz o Apóstolo, nem sujeitos ao jugo da escravidão da letra da lei.
      É este o resumo dos benefícios de Cristo para nós; é esta a manifestação do mistério; é o aniquilamento da natureza; é Deus e homem; é a deificação do homem assumido. Todavia era absolutamente necessário ao esplendor e à evidência da vinda de Deus aos homens uma introdução jubilosa, antecipando para nós o grande dom da salvação. Este é o sentido da solenidade de hoje que tem início na natividade da Mãe de Deus, cuja conclusão perfeita é a predestinada união do Verbo com a carne. Agora a Virgem nasce, é alimentada com leite, plasmada e preparada como mãe para o Deus e rei de todos os séculos.
     Neste momento, foi-nos dado duplo proveito: um, a elevação à verdade; outro, a rejeição da servidão e da vida sob a letra da lei. De que modo, com que fim? Pelo desaparecimento da sombra com a chegada da luz; em lugar da letra, a graça que dá a liberdade. Nossa solenidade está na fronteira entre a letra e a graça, unindo a realidade que chega aos símbolos que a figuravam, substituindo o antigo pelo novo.
     Portanto cante e exulte toda a criação e contribua com algo digno para a alegria deste dia. É um só o júbilo dos céus e da terra; juntos festejem tudo quanto está unido no mundo e acima do mundo. Pois hoje se construiu o templo criado do Criador de tudo, e pela criatura, de forma nova e bela, preparou-se nova morada para o seu Autor."
Sermões de Santo André de Creta, bispo
(Oratio 1:PG 97,806-810)
(Séc.VIII)

A santa que sacralizou o profano

Posted by Luiz Fernando Vieira


       Desde que o homem tomou consciência de sua dignidade, escolheu viver a sacralidade da mesma, ou seja, reconhecendo  o seu autêntico valor, lutou e relutou  para vivênciá-lo em todos os aspectos da sua vida. É próprio do ser, influenciar e ser influenciado! Dizem os filósofos que as palavras e ideias que temos, a partir do momento que ela é reciocinada pelo nosso intelecto e orada pela nossa fala, ela perde essências originais, que a moldam, que a aperfeiçoam ou até mesmo que a tornam precária.
      O homem com a Criação (Gn 1ss) sempre teve acesso a divindade e o contato com Deus, torna o homem divino. Quando lemos que: "Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente" (Gn 2,7), percebemos que esse contato com Deus, este estado de união, concede ao homem a intimidade com seu Criador. E ainda: "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher." (Gn 1,27), torna-se evidente que o homem provém de Deus e assim, esse vir Dele, o torna continuador, de sua criação. a criatura, à imagem do seu Criador também cria, porém, infinitamente mais imperfeito. 
       O provir do sagrado, faz o ser humano um ser sagrado!Porém, a dimensão do sagrado é acima de tudo, todas as dimenssões seja por natureza e por criação, pois Deus está em todas as coisas criadas, o Sagrado é inato.
       A vida do homem torna-se um prolongamento finito, com dons infinitos da revelação divina. Talvez uma espécie de continuidade, onde a participação do homem é necessária, para que a valorização do sagrado aconteça. Mas na ausência do homem, o sagrado não deixa de ser sagrado, pois a sacralidade transcende o próprio ser humano.
      Com a famosa globalização, a modernização do meio distanciou o homem do sagrado. A impressão que se tem, é que o homem possui necessidade de realidades palpáveis, de uma realização aparente, um não sei o quê que incompleta e um não sei onde, ele o encontra.
       Numa visão serena, torna-se evidente essa condição frágil do ser, onde a saciedade de posse faz o homem afastar-se de Deus. Deus apossa de nós, porque somos seus: "O Senhor tomou posse de nós" (Ap 19, 6). E o homem não compreendendo a sacralidade de ser de Deus, pois em Deus a liberdade do homem possui a plenitude de todo o sentido, ele se acorrenta numa ilusão que dissemina.
      A santidade de homens e mulheres em todo o mundo, em diversas culturas, nos revelam a capacidade divina que o ser humano possui, de sacralizar o que hoje está profanado.A graça de Deus que perpassa um coração totalmente aberto à Ele, realiza maravilhas inimagináveis. 
      Houve uma santa, que numa abertura sincera a esse amor de Deus, mudou uma estrutura rígida, tanto de ordem política, ideologista, religiosa puritana e pensante, e pregou a sacralidade de Deus com a vida.
       A Beata Teresa de Calcuta, sacralizou uma nação pagã, mostrando que a santidade não está apenas no lugar, mas nas pessoas. Sendo a Índia um país pagão, a bem aventurada Madre, fez o catolicismo gritar na mais profunda humildade. Na Índia há grandes numeros de martires e de perseguição cristã, vivenciar a fé num país hinduísta nos faz acreditar e testemunhar que de fato, há os que amam muito a Deus e não se calam. A Sacralidade da Trindade, que move toda a existência humana, aproxima da humanidade através de seus santos.
        Uma freira que em fidelidade a Igreja, sacralizou um sari indiano e o tornou um santo hábito de sua Ordem. Uma autêntica missionária, a Boa Samaritana dos nossos tempos, que passou fazendo o bem...
        A reflexão exige de nós uma resposta: O que eu considero sagrado? O que me fasta de Deus? Minhas obras revelam a sacralidade da minha dignidade como  pessoa humana, criada por Deus por amor?
          Mais do que ideias, precisamos de fatos...
         Cristo deve ser pregado e anunciado, antes de tudo com a nossa vida e a nossa participação na mudança da realidade!

TERESA: a mística da pobreza

Posted by Luiz Fernando Vieira

     "Qualquer ato de amor, por menor que seja, é um trabalho pela paz." Mais do que falar e escrever, Madre Teresa vivenciou este seu pensamento. Nascida a 27 de agosto de 1910 em Skoplje (Albânia), foi batizada um dia depois de nascer. A sua família pertencia à minoria albanesa que vivia no sul da antiga Iugoslávia. Seu verdadeiro nome era Agnes Gonxha Bojaxhiu.
      Pouco se sabe da sua infância, adolescência e juventude, porque Madre Teresa não gostava de falar de si própria. Aos dezoito anos, surge-lhe o pensamento da consagração total a Deus na vida religiosa. Obtido o consentimento dos pais, e por indicação do sacerdote que a orientava, entrou, no dia 29 de setembro de 1928, para a Casa Mãe das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, situada na Irlanda.
      O seu sonho, no entanto, era a Índia, o trabalho missionário junto aos pobres. Cientes disso, suas superioras a enviaram para fazer o Noviciado já no campo do apostolado. Agnes então partiu para a Índia e, no dia 24 de maio de 1931, faz a profissão religiosa tomando o nome de Teresa. Houve na escolha deste nome uma intenção, como ela própria diz: a de se parecer com Teresa de Jesus, a humilde carmelita de Lisieux.
      Foi transferida para Calcutá, onde seguiu a carreira docente e, embora cercada de meninas filhas das melhores famílias de Calcutá, impressionava-se com o que via quando saía às ruas: os bairros pobres da cidade cheios de crianças, mulheres e idosos cercados pela miséria, pela fome e por inúmeras doenças.
      No dia 10 de setembro de 1946, dia em que ficou marcado na história das Missionárias da Caridade (congregação fundada por Madre Teresa) como o "Dia da Inspiração", Irmã Teresa, durante uma viagem de trem ao noviciado do Himalaia, depara-se com um irmão pobre de rua que lhe diz: "Tenho sede!". A partir disso, ela tem a clareza de sua missão: dedicar toda sua vida aos mais pobres dos pobres.
      Após um tempo de discernimento com o auxílio do Arcebispo de Calcutá e de sua Madre Superiora, Irmã Teresa sai de sua antiga congregação para dar início ao trabalho missionário pelas ruas de Calcutá.        Começa por reunir um grupo de cinco crianças, num bairro pobre, a quem começou a dar escola. Pouco a pouco, o grupo foi crescendo. Dez dias depois, eram cerca de cinquenta crianças.
      Os inícios foram muito duros, mas Deus ia abençoando a obra da Irmã Teresa e as vocações começaram a surgir, precisamente entre as suas antigas alunas. Em 1949, Madre Teresa começa a escrever as constituições das Missionárias da Caridade e a 7 de outubro de 1950 a congregação fundada por Madre Teresa é aprovada pela Santa Sé expandindo-se por toda a Índia e pelo mundo inteiro.
      No ano de 1979 recebe o Prêmio Nobel da Paz. Neste mesmo ano, o Papa João Paulo II a recebe em audiência privada e torna Madre Teresa sua melhor "embaixadora" em todas as Nações, Fóruns e Assembléias de todo o mundo.
      Com saúde debilitada e após uma vida inteira de amor e doação (vida esta reconhecida por líderes de outras religiões, presidentes, universidades e até mesmo por países submetidos ao marxismo), Madre Teresa foi encontrar-se com o Dono e Senhor de sua vida a 5 de setembro de 1997. Seu velório arrastou milhares de pessoas durante vários dias.
       Foi beatificada pelo Papa João Paulo II no dia 19 de outubro de 2003, Dia Missionário Mundial.




   Beata Teresa de Calcutá, rogai por nós!

Para leitura indico o excelente livro: 

"Se eu alguma vez vier a ser Santa - serei certamente uma santa da 'escuridão'. Estarei continuamente ausente do Céu - para acender a luz daqueles que se encontram na escuridão na terra".

Como amamos tarde!

Posted by Luiz Fernando Vieira

     Muitas vezes, o tempo revela coisas inimagináveis,  inevitáveis e outras previsíveis e nessa dinâmica de viver, percebemos claramente como os encontros nos marcam, assim como também os desencontros.
      No campo espiritual, sabemos que a convivência com o sagrado, nos torna sagrados. A convivência com Deus, nos faz participantes da divindade de Deus. O encontro com a pessoa de Jesus Cristo, deve gerar em nós um movimento radical de vivência, fidelidade e perseverança.
      Santo Agostinho assim nos ensina:

" Instigado a voltar a mim mesmo, entrei em meu íntimo, sob tua guia e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio (cf. Sl 29,11). Entrei e com certo olhar da alma, acima do olhar comum da alma, acima de minha mente, vi a luz imutável. Não era como a luz terena e evidente para todo ser humano. Diria muito pouco se afirmasse que era apenas uma luz muito, muito mais brilhante do que a comum, ou tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era assim, mas outra coisa, inteiramente diferente de tudo isto. Também não estava acima de minha mente como óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, mas mais alta, porque ela me fez, e eu, mais baixo, porque feito por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta luz."

     Onde desejas encontrar Deus? O que tanto esperas? 
      Esquecemos muito fácilmente como encontrá-Lo e Ele se faz tão perto de nós, na simplicidade. O olha é próprio da beleza de Deus... No olhar, somos capazes de achá-Lo no mundo... Deus é discreto por natureza...


"Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade! Tu és o meu Deus, por ti suspiro dia e
noite. Desde que te conheci, tu me elevaste para ver que quem eu via, era, e eu, que via, ainda não era. E reverberaste sobre a mesquinhez de minha pessoa, irradiando sobre mim com toda a força. E eu tremia de amor e de horror. Vi-me longe de ti, no país da dessemelhança, como que ouvindo tua voz lá do alto: “Eu sou o alimento dos grandes. Cresce e me comerás. Não me mudarás em ti como o alimento de teu corpo, mas tu te mudarás em mim”.
  E eu procurava o meio de obter forças, para tornar-me idôneo a te degustar e não o encontrava até que abracei o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5), que é Deus acima de tudo, bendito pelos séculos (Rm 9,5). Ele me chamava e dizia: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). E o alimento que eu não era capaz de tomar se uniu à minha carne, pois o Verbo se fez carne (Jo 1,14), para dar à nossa infância o leite de tua
sabedoria, pela qual tudo criaste."
     
       Hoje escolhemos amar o que?A quem?
          Santo Agostinho  responde para nós:

"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede.
Tocaste-me e ardi por tua paz."
Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 7,10.18;10,27: CSEL 33,157-163.255)
(Séc.V)