RSS Feed

Vivo sem viver em mim

Posted by Luiz Fernando Vieira




Vivo sem viver em mim
e tão alta vida espero
que morro por não morrer.
Vivo já fora de mim
depois que morro de amor
porque vivo no Senhor
que me escolheu para Si:
dei meu coração para Ti
e pus nele o dizer
que morro por não morrer.

Esta divina prisão 
de amor em que vivo
fez de Deus o meu cativo
e livre meu coração.
Causa em mim tanta paixão
Deus meu prisioneiro ser, 
que morro por não morrer.

Ai, que longa é esta vida!
Quão duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros
em que a alma está aprisionada!
Só de esperar a saída
me causa tal padecer
que morro por não morrer.

Ai, como a vida é amarga
sem a alegria do Senhor.
Do Pai tão doce é o amor, 
e a esperada hora tão longa!
Tira-me Deus esta carga, 
este aço não vou poder
que morro por não morrer.

Vivo com uma confiança:
qualquer hora hei de morrer
pois morrendo ei de viver
me sustenta esta esperança.
Morte que o viver alcança,
não tardes em me querer, 
que morro por não morrer.

Olhe como o amor é forte!
Vida, não sejas molesta:
veja que somente resta
eu perder-te e achara o norte;
venha já, ó doce morte, 
me matar sem se deter
que morro por não morrer.

Lá do alto segura eu viva
a vida que é verdadeira;
Nesta vida, tão ligeira,
não há gozo que me sirva.
Morte, não sejas esquiva,
vai matando o meu viver,
que morro por não morrer.

Ó vida, que posso eu dar
a meu Deus, que vive em mim, 
a não ser perder-te a ti
e a Ele melhor gozar?
Morrendo eu quero alcançar
só Ele me basta ter
que morro por não morrer.




Já toda me dei a Ti,
E de tal sorte hei mudado,
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.

Quando o doce Caçador
me atirou e fui rendida,
e nos braços do amor
minh’alma estacou, caída,
recobrando nova vida
de tal modo hei mudado
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.

Atirou-me com uma seta,
enarvorada de amor,
e minha alma quedou feita
una com seu Criador;
já não quero outro amor,
a meu Deus já me hei dado,
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.


Teresa, a de Jesus

Posted by Luiz Fernando Vieira

   
 Caros amigos leitores, hoje  meu coração se enche de uma alegria imensa, pois com a Igreja celebro aquela que, tanto me ensinou na vida espiritual. Quando penso em Teresa de Jesus, penso na palavra MÃE...Há como descrever? Sempre, por mais que fale-se, faltar-nos palavras!Como diz Mário Quintana:
"Mãe...São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras...
E nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de s er tão grande
Como o bem que ela nos quer...
Palavra tão pequenina
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanmho do céu
E apenas menor que Deus!"
     Teresa é a mais pura expressão de como relacionar-se com Deus. A Espiritualidade Teresiana não é outra senão a espiritualidade da amizade do homem com Deus. Conhecê-Lo e estar com Ele, amá-Lo como merece e ser-lhe fiel, como acontece naturalmente com uma amizade. É possível construir no tempo amizades que se eternizam, com Deus acontece um diferencial extremamente pleno: estabelecemos uma amizade que nos antecede, nos plenifica e nos salva.
      Sendo uma mulher, que viveu na Idade Média, Teresa não se acomodou diante das atrocidades religiosas de seu tempo, mas numa atitude de amor e de fidelidade ao Divino Amigo, ousa tornar fecunda suas obras, reformando seus costumes, convertendo suas ações, vivendo a radicalidade do despojamento interior, a obediência perfeita e uma castidade sagrada.
        Desde seu nascimento em 1515, a Igreja sofria muito, num mundo medievo, onde o cristianismo vivia religiosamente profano. E suas ações revelam um carater unico que definine o dom da amizade; a fidelidade!
        Quisera publicar o que Teresa, minha mãe, me ensinou, porém, dentre as  os mistérios que envolvem o céu e a terra, confesso-vos: com Teresa chega-se a Deus...E Nele, nós nos perdemos num encontrar-se sereno que a alma tanto busca.

                                            Santa Teresa, Luz da santa Igreja, roga por nós!


Padre Diocesano, luz da Santa Igreja.

Posted by Luiz Fernando Vieira



     “Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir.” Assim diz São Gregório Magno, na sua Regra Pastoral.
     Todo sacerdote é capaz de encontrar na Sagrada Escritura, a doutrina necessária para anunciar o Cristo, sacerdote preparado é aquele que ama a Palavra de Deus e ante de estuda-la, faz da mesma sua oração preferida. Assim diz São Paulo: “Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores” (Tt 1, 9) e o profeta Malaquias também diz: “Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei, porque é um mensageiro do Senhor” (Ml 2, 7).
     O grande Papa Gregório Magno, foi um autêntico profeta do seu tempo, que reluz na vida pastoral da Igreja de forma eficaz, ativa e consciente. Ele diz que um sacerdote tem por ofício ser um arauto. Portanto, contemplando a firmeza e a verdade de suas palavras, podemos encontrar em toda a Igreja, homens que, mediante o esforço pessoal e a graça incondicional de Deus, anunciam sem cessar o Reino de Deus, como diz o Salmo 114: “Vossos amigos, ó Senhor, anunciam vosso Reino Glorioso, narrem a glória e o esplendor do vosso Reino e saibam proclamar vosso poder, para espalhar vossos prodígios entre os homens”.
     Dessa forma, é justo quando a Igreja recorda seus insignes pastores, que deram a vida pelo rebanho, seguindo os passos de Cristo. Hoje, a Igreja presta culto e homenagem, ao glorioso São João de Ávila, novo sacerdote Doutor da Igreja.
    O Padre João de Ávila, nascido em 1500, foi um sacerdote diocesano espanhol. Seus pais possuíam ascendência judia e eram nobres mineradores. Estudou Direito em Salamanca, mas sentindo o chamado a uma vida de oração, abandonou os estudos e retirou-se para Almodóvar, onde viveu piedosamente em penitência.
     Depois, aos 20 anos, estudou Artes e Teologia em Alcalá, ordenou-se sacerdote aos 26 anos e celebrou sua primeira missa em sufrágio da alma de seus pais, que já haviam falecidos. Como havia abraçado o sacerdócio, vendeu toda a sua herança e distribuiu entre os pobres, assim iniciou sua evangelização no povoado em que nasceu.
     Com apenas um ano de sacerdócio, desejou muito ser missionário na América, mas a necessidade de padres na Espanha era grande e o arcebispo conseguiu dissuadi-lo. Apaixonado pela Sagrada Escritura, escreveu muitos comentários sobre os mais variados livros da Bíblia, porém, o comentário feito do Salmo 44, teve um sucesso em toda a Espanha, por possuir um caráter verdadeiramente ascético, que impressionou inclusive o Rei espanhol Filipe II. O Arcebispo de Toledo, disse sobre este comentário: “O comentário de Padre João converteu mais almas do que o numero de letras que ela continha”. Assim, este opúsculo marcou positivamente sua literatura ascética posterior e o projetou de tal modo que não há autor religioso do século XVI tão consultado como João de Ávila.
     São João de Ávila foi o examinador dos livros de Santa Teresa de Ávila, relacionou-se com frequência com Santo Inácio de Loyola e os membros da Companhia de Jesus, que muito se esforçaram para leva-lo à sua Ordem, mas não o convencendo, pois tinham dentro de si, a convicção a que fora chamado. Também conviveu e relacionou-se com São Francisco de Borja, São Pedro de Alcântara e São João de Ribera.
Devido a sua enorme ascendência como pregador, provocou inveja entre o clero e assim, foi denunciado à Inquisição, foi perseguido, encarcerado e esteve sob processo eclesiástico, porém, absolvido por unanimidade.
     Sua pregação era de uma magnitude tão grande e de força notória, que suas palavras converteram o Duque de Gandía, que viria a ser o futuro São Francisco de Borja, assim como também, sua pregação converteu o soldado Juan Ciudad, hoje São João de Deus.
     Em 1554 ficou muito doente e em 1569 faleceu. Foi canonizado em 1970 pelo Papa Paulo VI, hoje faz parte dos trinta e quatro doutores da Igreja Católica.
     Suas obras foram alvo de estudo de muitos teólogos, inclusive do próprio Papa Bento XVI. Pregador exímio e escritor ascético, além do comentário sobre o salmo 44, escreveu o Epistolário espiritual para todos os estados, uma diversidade de cartas, compôs um livro sobre o Santíssimo Sacramento, outro sobre O Conhecimento de Si mesmo e o Contemptus mundo nuevamente romançado. Os seus famosos Sermões se perderam quase todos.
     Sua doutrina sobre o sacerdócio chama-se Tratado sobre o sacerdócio, o qual discorre sobre a sacralidade do sacramento da ordem. Outras obras são: Comentários sobre à carta aos Gálatas, A Doutrina Cristã e As Duas práticas para sacerdotes.
     Assim ele escreve ao comentar o salmo 44: “Ainda que não houvesse inferno para ameaçar, nem paraíso para convidar, nem mandamento para obrigar, o justo faria o que faz pelo amor de Deus somente.” (Audi filia, cap. L).

                            São João de Ávila, presbítero e Doutor da Igreja, rogai por nós!

Médica, Santa e Doutora da Igreja

Posted by Luiz Fernando Vieira

                     
                     A Igreja católica se compraza em declarar as virtudes de seus membros e apresentá-los como modelo fiéis de seguimento à Cristo. Em toda história, de muitas maneiras e conformes as realidades apresentadas, homens e mulheres disseram sim à Vontade de Deus em suas vidas e abraçaram sem reservas o Reino de Deus.
                     Hoje, fazemos uma recordação simples, porém, merecida,  de uma insigne filha da Igreja católica, recordamos e excepcional musicista, dramaturga, médica, monja beneditina, poetisa, mística, teóloga e doutora universal da Igreja: Santa Hildegarda.
                 Nascida em 1098, na Alemanha, apresentou desde tenra idade, uma saúde frágil, mas uma aguda inteligência e forte inclinação religiosa, pois ainda criança possuía visões místicas e uma grande piedade oracional e assim, em sua vida já cumpria o que foi dito por Cristo: "Te louvo Deus do Céus, porque escondestes estas coisas aos sábios e prudentes, e as revelou aos pequeninos" (Lucas 10, 21). Sua família era de origem nobre e de grande prestígio em toda a Germânia e foi no seio de sua família que a Providência Divina atraía para Si esta criança, pois já nos seus três anos de idade, admirava a todos que a ouviam falar.
            Como Hildegarda dava sinais inequívocos de vocação contemplativa, sua família confiou sua formação, à nobre condessa Jutta de Spanhein, que abandonara nessa mesma época, suas glórias e riquezas mundanas para tornar-se monja beneditina. Assim, aos oito anos de idade, Hildegarda ingressa no Mosteiro. A vida de silêncio, a formação e as sábias orientações espirituais que lhe eram dadas, a participação nos atos litúrgicos e o carisma espiritual de São Bento foram modelando sua alma, segundo o mais puro ideal monástico: encarnando em sua vida a pessoa de Jesus Cristo.
            Em sua caminhada vocacional, Santa Hildegarda fez grandes avanços espirituais, que fertilizou toda a sua vida interior. A partir de seu exemplo, muitas mulheres da nobreza alemã seguiram seus passos, sua entrada para uma clausura monástica, atraiu olhares e o seu mosteiro tornou-se um centro de grande importância local.
Devido a sua ascese mística muito elevada, suas visões eram freqüentes, em um dos seus fortes momentos de oração, ela recebe a revelação: “Escreva para o bem da humanidade”, assim a monja inicia seu trabalho eclesiástico espiritual.
Com a morte da abadessa Jutta, Hildegarda gozava de um excelente prestigio entre as monjas, devido as sua notável inteligência, cultura e principalmente sua admirável abnegação evangélica. Apesar de sua juventude, foi eleita por unanimidade abadessa de seu mosteiro, mas não possuindo tempo e  tranqüilidade para continuar seus estudos, pois a falecida Abadessa Jutta, gozava de fama de santidade e muitos recorriam ao mosteiro para rezar em seu túmulo. Hoje a abadessa Jutta é beata da Igreja Católica.
Após muitas dificuldades, Hildegarda consegue autorização para a fundação de outro mosteiro, constrói assim a Abadia de Bingen, para onde se transferiu com uma comunidade de dezoito irmãs.
Passado os cinco primeiros anos como abadessa, recebeu outra revelação divina que dizia: “Manifesta as maravilhas que aprendes. Escreve e fala!” Assim, originou sua principal obra: “Liber Scivias” ou “Livros dos Caminhos”, que demorou dez anos para ser escrita e recebeu elogios do glorioso doutor da Igreja, São Bernardo de Claraval e também do Papa Eugênio II, reconhecendo o valor e a autenticidade, seja de sua vida e de suas palavras, como Revelações de Deus.
Qual é, de fato, a sua doutrina?
Possuindo uma linguagem simples, Santa Hildegarda, escreve sem pretensões literárias, ela fala sobre a relação entre Deus e os homens, desde a Criação até o Juízo Final e prioriza a importância da Igreja na história da salvação. Possui um coração extremamente apaixonado pela Santíssima Trindade, denúncia com firmeza os erros morais da sociedade e salienta a importância e a eficácia dos sacramentos para a salvação das almas.
A realidade social em que vivia Santa Hildegarda era de contrastes e dificuldades. A Igreja passava por problemas interiores que se exteriorizavam e comprometiam a caminhada eclesial de muitos fiéis e sacerdotes. O Papa era perseguido pelo Imperador Frederico Barba-Roxa, que desejava destronar o sucessor de Pedro, por acreditar ser possuidor de mais poder espiritual que o mesmo, mas na verdade, o que reinava, era um interesse ambicioso por parte do Império que almejava findar a Igreja.
São Bento e Santa Hildegardas
Ícones da ordem beneditina
Nesta mesma época, surgiram os cátaros e um visível relaxamento de costumes que conduziam os homens para um abismo de perdição. Portanto, Hildegarda sentia em si, a mesma vocação que recebeu os profetas do Antigo Testamento. Numa atitude de fidelidade a Igreja, Hildegarda não restringe sua atuação ao âmbito monástico, mas sente a necessidade de fazer ressoar sua voz profética nos púlpitos das igrejas, apontar com sabedoria os erros de um século surdo à voz de Deus.
Urgindo com uma alma fervorosa, ela já idosa, prega nas grandes catedrais lotadas por clérigos, abades, monges, bispos, nobres e todo o povo, que aspiravam ouvir suas justas admoestações. Foram palcos de suas homilias, as catedrais de Mainz, Bamberg, Trévis e Colônia, dentre as demais igrejas menores da Alemanha. São admiráveis os efeitos de suas pregações, muitos se convertem e voltam ao grêmio da Igreja. Suas cartas eram fortes exortações evangélicas e comoviam as mais importantes personalidades de sua época, além de condenar com veemência e muita coragem os vícios e abusos do clero.
No Concílio de Reims, ao colocar em pauta a pessoa de Hildegarda, suas visões e pregações, disse São Bernardo: “É preciso impedir que se apague uma luz tão admirável, animada pela inspiração divina.”
Desde a França à Alemanha, muitos fiéis vinham procurá-la, pedir conselhos, orações, orientações e consultas médicas. Conta-se que havia em Colônia, uma mulher possessa, em que nenhum sacerdote conseguiu exorcizar e ela por meio da oração, livrou a enferma.
São Bernardo constantemente pedia suas orações insistentemente e muitos outros santos como Santo Eberardo e Santa Isabel de Schonau.
Na medicina, Santa Hildegarda surpreendeu estudiosos do seu tempo, sobretudo por suas ousadas afirmações medicinais. Demonstrou ela uma penetração abarcativa nas relações entre o homem e o mundo, sua constituição espiritual e física, e as propriedades benéficas dos seres vivos. São de sua autoria as duas únicas obras médicas composta no Ocidente ao longo do século XII, de que tem-se noticia. Afirma ela, que os desequilíbrios nervosos e espirituais se refletem de modo inevitável na saúde corporal, originando os problemas de metabolismo que conduzem as doenças psicossomáticas.  Ela defende que a vida espiritual é um precioso ponto de equilíbrio para a saúde. Explicou os efeitos farmacológicos de muitas ervas medicinais e nutritivas.
No campo musical, Hildegarda foi uma notável musicista, dotada de rara acuidade, bela voz e originalidade, compôs em torno de setenta sinfonias, assim diz uma de suas catequeses sobre a música: "Lembremo-nos de que, com o pecado, Adão perdeu sua inocência e, em consequência perdeu também a voz que antes possuía, semelhante à dos anjos do céu. Tendo perdido essa capacidade de louvar a deus, os profetas, inspirados pelo Espírito Santo, escreveram os salmos e os cânticos para incitar os homens a se voltarem para esta doce recordação do louvor da qual gozava Adão no Paraíso. Também os instrumentos musicais, pela emissão de múltiplos sons, podem instruir espiritualmente os homens".
Aos oitenta e um anos, entregou sua alma à Deus. Era dia 17 de Setembro de 1179. Logo após sua morte, muitos peregrinos vinham ao Mosteiro agradecer milagres e curas sob sua intercessão.
No dia 10 de maio de 2012, o Papa Bento XVI canonizou-a solenemente, uma vez que não fora encontrado registros oficiais de sua canonização, mas apenas a inscrição de sue nome no Santoral Romano, chamado de Martiriológico. Essa espécie de canonização é uma tradição muito antiga na Igreja, chamada de canonização equipolente, onde a fama de santidade e a contribuição singular do candidato aos altares à Igreja, ultrapassa a jurisdição. O Santo Padre resgata essa iniciativa ao canonizar Santa Hildegarda.
Amanhã, na abertura solene dos Sínodo dos Bispos, Sua Santidade Bento XVI, colocará Santa Hildegarda entre os principais baluartes da fé católica apostólica romana.

Padres assassinados no Brasil

Posted by Luiz Fernando Vieira


Dentro da conturbada invasão dos holandeses no nordeste do Brasil, encontram-se os dois martírios coletivos: o de Cunhaí e o de Uruaçu. Estes martírios aconteceram no ano de 1645, sendo que o Padre André de Soveral e Domingos de Carvalho foram martirizadps em Cunhaú e o Padre Ambrósio Francisco e o leigo Mateus Moreira em Uruaçu; dentre outros.
No Engenho de Cunhaú, principal pólo econômico da Capitania do Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas sob os cuidados do Pe. André de Soveral. No dia 15 de julho chegou em Cunhaú Jacó Rabe, trazendo consigo seus liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe Jerera e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e desmandos, feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de destruição por onde passava.
Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho após a missa dominical no dia seguinte. Durante a Santa Missa, após a elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.
A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e capitanias vizinhas, mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês, alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes o vigário Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto. Os outros moradores, a grande maioria, não podendo ficar no Forte, assumiram a sua própria defesa, construindo uma fortificação na pequena cidade de Potengi, a 25 km de Fortaleza.
Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, Rabe foi então à Potengi, e encontrou heróica resistência armada dos fortificados. Como sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram o mais que puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las. Depuseram as armas e entregaram-se nas mãos de Deus.
Cinco reféns foram levados à Fortaleza: Estêvão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande ficaram em dois grupos: 12 na Fortaleza e o restante sob custódia em Potengi.
Dia 2 de outubro chegaram ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 da Fortaleza, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um escabino, um rico proprietário.
Foram embarcados e levados rio acima para o porto de Uruaçu. Lá os esperava o chefe indígena potiguar Antônio Paraopaba e um pelotão armado de duzentos índios seus comandados. Repetiram-se então as piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam pejo em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.


(Beato Mateus Moreira, leigo brasileiro martirizado)

Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".

A 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II beatificou os 30 protomártires brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28 leigos beatificados.

Protomártires do Brasil, rogai por nós!



Beato André de Soveral



Beato Ambrósio Francisco

A mística do amor: "Compreendi que o amor é eterno"

Posted by Luiz Fernando Vieira


Autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus, virgem
(Manuscrits autobiographiques, Lisieux1957,227-229)
(Séc.XIX)

No coração da Igreja serei o amor
Meus imensos desejos me eram um autêntico martírio. Fui, então, às cartas de São Paulo a ver se encontrava uma resposta. Meus olhos caíram por acaso nos capítulos doze e treze da Primeira Carta aos Coríntios. No primeiro destes, li que todos não podem ser ao mesmo tempo apóstolos, profetas, doutores, e que a Igreja consta de vários membros; os olhos não podem ser mãos ao mesmo tempo. Resposta clara, sem dúvida, mas não capaz de satisfazer meu desejo e dar-me a paz.
 Perseverei na leitura sem desanimar e encontrei esta frase sublime: Aspirai aos melhores carismas. E vos indico um caminho ainda mais excelente (1Cor 12,31). O Apóstolo esclarece que os melhores carismas nada são sem a caridade, e esta caridade é o caminho mais excelente que leva com segurança a Deus. Achara enfim o repouso.
Ao considerar o Corpo místico da Igreja, não me encontrara em nenhum dos membros enumerados por São Paulo, mas, ao contrário, desejava ver-me em todos eles. A caridade deu- me o eixo de minha vocação. Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários membros e neste corpo não pode faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a Igreja tem um coração e este coração está inflamado de amor. Compreendi que os membros da Igreja são impelidos a agir por um único amor, de forma que, extinto este, os apóstolos não mais anunciariam o Evangelho, os mártires não mais derramariam o sangue. Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno.
Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação:
minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu
Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará.