A Igreja católica se compraza em declarar as virtudes de seus membros e apresentá-los como modelo fiéis de seguimento à Cristo. Em toda história, de muitas maneiras e conformes as realidades apresentadas, homens e mulheres disseram sim à Vontade de Deus em suas vidas e abraçaram sem reservas o Reino de Deus.
Hoje, fazemos uma recordação simples, porém, merecida, de uma insigne filha da Igreja católica, recordamos e excepcional musicista, dramaturga, médica, monja beneditina, poetisa, mística, teóloga e doutora universal da Igreja: Santa Hildegarda.
Nascida em 1098, na Alemanha,
apresentou desde tenra idade, uma saúde frágil, mas uma aguda inteligência e
forte inclinação religiosa, pois ainda criança possuía visões místicas e uma
grande piedade oracional e assim, em sua vida já cumpria o que foi dito por
Cristo: "Te louvo Deus do Céus, porque
escondestes estas coisas aos sábios e prudentes, e as revelou aos
pequeninos" (Lucas 10, 21). Sua família era de
origem nobre e de grande prestígio em toda a Germânia e foi no seio de sua
família que a Providência Divina atraía para Si esta criança, pois já nos seus
três anos de idade, admirava a todos que a ouviam falar.
Como Hildegarda dava sinais
inequívocos de vocação contemplativa, sua família confiou sua formação, à nobre
condessa Jutta de Spanhein, que abandonara nessa mesma época, suas glórias e
riquezas mundanas para tornar-se monja beneditina. Assim, aos oito anos de
idade, Hildegarda ingressa no Mosteiro. A vida de silêncio, a formação e as
sábias orientações espirituais que lhe eram dadas, a participação nos atos
litúrgicos e o carisma espiritual de São Bento foram modelando sua alma,
segundo o mais puro ideal monástico: encarnando em sua vida a pessoa de Jesus
Cristo.
Em sua caminhada vocacional, Santa
Hildegarda fez grandes avanços espirituais, que fertilizou toda a sua vida
interior. A partir de seu exemplo, muitas mulheres da nobreza alemã seguiram
seus passos, sua entrada para uma clausura monástica, atraiu olhares e o seu
mosteiro tornou-se um centro de grande importância local.
Devido a sua ascese mística muito elevada, suas visões eram freqüentes,
em um dos seus fortes momentos de oração, ela recebe a revelação: “Escreva para o bem da humanidade”, assim
a monja inicia seu trabalho eclesiástico espiritual.
Com a morte da abadessa Jutta, Hildegarda gozava de um excelente prestigio
entre as monjas, devido as sua notável inteligência, cultura e principalmente
sua admirável abnegação evangélica. Apesar de sua juventude, foi eleita por
unanimidade abadessa de seu mosteiro, mas não possuindo tempo e tranqüilidade para continuar seus estudos,
pois a falecida Abadessa Jutta, gozava de fama de santidade e muitos recorriam
ao mosteiro para rezar em seu túmulo. Hoje a abadessa Jutta é beata da Igreja
Católica.
Após muitas dificuldades, Hildegarda consegue autorização para a fundação
de outro mosteiro, constrói assim a Abadia de Bingen, para onde se transferiu
com uma comunidade de dezoito irmãs.
Passado os cinco primeiros anos como abadessa, recebeu outra revelação
divina que dizia: “Manifesta as
maravilhas que aprendes. Escreve e fala!” Assim, originou sua principal
obra: “Liber Scivias” ou “Livros dos Caminhos”, que demorou dez
anos para ser escrita e recebeu elogios do glorioso doutor da Igreja, São
Bernardo de Claraval e também do Papa Eugênio II, reconhecendo o valor e a
autenticidade, seja de sua vida e de suas palavras, como Revelações de Deus.
Qual é, de fato, a sua doutrina?
Possuindo uma linguagem simples, Santa Hildegarda, escreve sem pretensões
literárias, ela fala sobre a relação entre Deus e os homens, desde a Criação
até o Juízo Final e prioriza a importância da Igreja na história da salvação.
Possui um coração extremamente apaixonado pela Santíssima Trindade, denúncia
com firmeza os erros morais da sociedade e salienta a importância e a eficácia
dos sacramentos para a salvação das almas.
A realidade social em que vivia Santa Hildegarda era de contrastes e
dificuldades. A Igreja passava por problemas interiores que se exteriorizavam e
comprometiam a caminhada eclesial de muitos fiéis e sacerdotes. O Papa era
perseguido pelo Imperador Frederico Barba-Roxa, que desejava destronar o
sucessor de Pedro, por acreditar ser possuidor de mais poder espiritual que o
mesmo, mas na verdade, o que reinava, era um interesse ambicioso por parte do
Império que almejava findar a Igreja.
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São Bento e Santa Hildegardas
Ícones da ordem beneditina |
Nesta mesma época, surgiram os cátaros e um visível relaxamento de
costumes que conduziam os homens para um abismo de perdição. Portanto,
Hildegarda sentia em si, a mesma vocação que recebeu os profetas do Antigo
Testamento. Numa atitude de fidelidade a Igreja, Hildegarda não restringe sua
atuação ao âmbito monástico, mas sente a necessidade de fazer ressoar sua voz
profética nos púlpitos das igrejas, apontar com sabedoria os erros de um século
surdo à voz de Deus.
Urgindo com uma alma fervorosa, ela já idosa, prega nas grandes catedrais
lotadas por clérigos, abades, monges, bispos, nobres e todo o povo, que
aspiravam ouvir suas justas admoestações. Foram palcos de suas homilias, as
catedrais de Mainz, Bamberg, Trévis e Colônia, dentre as demais igrejas menores
da Alemanha. São admiráveis os efeitos de suas pregações, muitos se convertem e
voltam ao grêmio da Igreja. Suas cartas eram fortes exortações evangélicas e
comoviam as mais importantes personalidades de sua época, além de condenar com
veemência e muita coragem os vícios e abusos do clero.
No Concílio de Reims, ao colocar em pauta a pessoa de Hildegarda, suas
visões e pregações, disse São Bernardo: “É preciso impedir que se apague uma
luz tão admirável, animada pela inspiração divina.”
Desde a França à Alemanha, muitos fiéis vinham procurá-la, pedir
conselhos, orações, orientações e consultas médicas. Conta-se que havia em
Colônia, uma mulher possessa, em que nenhum sacerdote conseguiu exorcizar e ela
por meio da oração, livrou a enferma.
São Bernardo constantemente pedia suas orações insistentemente e muitos
outros santos como Santo Eberardo e Santa Isabel de Schonau.
Na medicina, Santa Hildegarda surpreendeu estudiosos do seu tempo,
sobretudo por suas ousadas afirmações medicinais. Demonstrou ela uma penetração
abarcativa nas relações entre o homem e o mundo, sua constituição espiritual e
física, e as propriedades benéficas dos seres vivos. São de sua autoria as duas
únicas obras médicas composta no Ocidente ao longo do século XII, de que tem-se
noticia. Afirma ela, que os desequilíbrios nervosos e espirituais se refletem
de modo inevitável na saúde corporal, originando os problemas de metabolismo
que conduzem as doenças psicossomáticas.
Ela defende que a vida espiritual é um precioso ponto de equilíbrio para
a saúde. Explicou os efeitos farmacológicos de muitas ervas medicinais e
nutritivas.
No campo musical, Hildegarda foi uma notável musicista, dotada de rara acuidade, bela voz e originalidade, compôs em torno de setenta sinfonias, assim diz uma de suas catequeses sobre a música: "Lembremo-nos de que, com o pecado, Adão perdeu sua inocência e, em consequência perdeu também a voz que antes possuía, semelhante à dos anjos do céu. Tendo perdido essa capacidade de louvar a deus, os profetas, inspirados pelo Espírito Santo, escreveram os salmos e os cânticos para incitar os homens a se voltarem para esta doce recordação do louvor da qual gozava Adão no Paraíso. Também os instrumentos musicais, pela emissão de múltiplos sons, podem instruir espiritualmente os homens".
Aos oitenta e um anos, entregou sua alma à Deus. Era dia 17 de Setembro
de 1179. Logo após sua morte, muitos peregrinos vinham ao Mosteiro agradecer
milagres e curas sob sua intercessão.
No dia 10 de maio de 2012, o Papa Bento XVI canonizou-a solenemente, uma
vez que não fora encontrado registros oficiais de sua canonização, mas apenas a
inscrição de sue nome no Santoral Romano, chamado de Martiriológico. Essa
espécie de canonização é uma tradição muito antiga na Igreja, chamada de
canonização equipolente, onde a fama de santidade e a contribuição singular do
candidato aos altares à Igreja, ultrapassa a jurisdição. O Santo Padre resgata
essa iniciativa ao canonizar Santa Hildegarda.
Amanhã, na abertura solene dos Sínodo dos Bispos, Sua Santidade Bento
XVI, colocará Santa Hildegarda entre os principais baluartes da fé católica apostólica
romana.